Existem dois países dentro do Brasil, um para negros e outro para não negros. Segundo dados do Atlas da Violência de 2019, o país registrou 65.602 casos de homicídio em 2017, o maior índice da história. Em 2016, foram 62.517 homicídios.
A violência, contudo, não é distribuída de maneira igual entre todos. Números segmentados pelo quesito raça/cor mostram que pretos e pardos, categorias que compõem o grupo negro, são as principais vítimas de homicídio.
De acordo com o estudo, para cada indivíduo não negro assassinado, outros 2,7 negros tinham a vida tirada. Ainda segundo o documento, 43,1 negros foram mortos para cada grupo de 100 mil habitantes, enquanto 16 não negros foram executados para cada grupo de 100 mil habitantes. A estatística representa um avanço na letalidade de negros, que foi de 40,2 para cada grupo de 100 mil habitantes em 2016. Não houve variação significativa entre não negros.
Se em 2016, 71,5% dos assassinados no Brasil eram negros, esse número avançou para 75,5% em 2017.
Apesar de não ser uma novidade de que negros são as principais vítimas de violência, Samira Bueno, uma das pesquisadoras do Atlas da Violência e diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, acredita que há um aumento da discrepância entre negros e brancos no quesito homicídios.
“O que é mais preocupante é que a gente tem um acirramento desse processo de desigualdade racial absolutamente profundo, que no Brasil se manifesta de formas distintas”.
Uma das regiões que melhor sintetiza essa disparidade é a Nordeste. No estado de Alagoas, por exemplo, a taxa de homicídios de negros superou em 18,3 vezes a de não negros. O estado representa um dos lugares mais inseguros para ser negro e mais seguro para ser não negro.
O Rio Grande do Norte também apresentou indicadores alarmantes, com o registro de 87 negros mortos para cada grupo de 100 mil habitantes. Em 10 anos, o índice de letalidade contra negros no estado cresceu 333,3%.
Samira Bueno acredita que esses números são reflexos do racismo presente na sociedade brasileira.
“São dados estarrecedores, que mostram como somos uma nação que convive com o racismo, que não consegue tirar da vulnerabilidade metade da sua população, que é negra. É como se negros e não negros vivessem em dois países diferentes”.
Os números, porém, podem piorar no futuro com a maior presença de armas de fogo nas mãos da população, segundo a pesquisadora. No dia 7 de Maio, Jair Bolsonaro (PSL) assinou decreto que flexibiliza o porte de armas para algumas categorias, como advogados, jornalistas que façam cobertura policial, caminhoneiros, entre outros.
“Uma maior difusão de armas de fogo na sociedade tende a aumentar o número de mortes e gerar resultados provavelmente catastróficos. Isso muito provavelmente vai impactar seriamente na violência e a gente sabe que isso necessariamente vai se traduzir no crescimento da mortalidade entre a população que é mais vulnerável, que é a jovem e negra”.
com informações de yahoonotícias