O corpo de Ágatha Félix, de 8 anos, morta com um tiro de fuzil nas costas no Complexo do Alemão na noite de sexta-feira (20), foi sepultado na tarde deste domingo (22), no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O velório começou na manhã deste domingo e foi restrito à família e amigos próximos, numa capela próxima ao cemitério.
Em clima de revolta e grande comoção, o enterro foi acompanhado por familiares e moradores do complexo. "Vamos ver até quando esse governo vai acabar com as famílias, vai acabar com o futuro promissor das nossas crianças", disse o avô de Ágatha, Ailton Félix.
Antes do velório, moradores do Complexo do Alemão realizaram uma manifestação, caminhando até o bairro de Inhaúma, onde Ágatha foi enterrada, acompanhados por um cortejo de mototaxistas da comunidade. Quando o corpo deixou a capela do velório, os presentes gritavam "Justiça" e "Witzel é assassino". Os mototaxistas fizeram um buzinações. Precedido por faixas contra a violência --"parem de nos matar", dizia uma delas, o cortejo andou por 500 metros até o cemitério de Inhaúma.
"Ela está agora no céu, que é o lugar que ela merece", dizia o avô, que seguiu o carro funerário abraçado a parentes e amigos. "O mundo está vendo o que aconteceu com a minha neta", protestou.
Investigação
Por falta de funcionários habilitados para operar um equipamento chamado “scanner, necessário para a perícia, o corpo de Ágatha passou quase todo o sábado no IML (Instituto Médico Legal) do Rio. Por volta das 18h30 de sábado, a Polícia Civil informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o corpo de Ágatha já estava sendo periciado. O uso de scanner conseguiu identificar o fragmento do projétil que atingiu a garota. O material foi retirado e encaminhado para perícia.
As armas utilizadas pelos policiais militares que estavam em patrulhamento na noite de sexta-feira (20) no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, no momento em que Ágatha foi alvejada, também serão encaminhadas para perícia da Polícia Civil.
De acordo com a agência Estadão Conteúdo, as armas dos policiais militares passarão por confronto balístico com o projétil retirado do corpo da vítima no Instituto Médico Legal. A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) informou que familiares da criança depuseram nesse sábado (21), e que novas testemunhas serão ouvidas a partir desta segunda (23). Também no decorrer dessa semana, a polícia determinará a data para a reconstituição do disparo que matou Ágatha.
Família acusa a polícia
A Polícia Militar nega que tenha sido responsável pelo tiro que matou Ágatha, mas diz que está averiguando internamente o caso. Segundo a PM, os agentes que atuavam no local tinham sido alvo de criminosos, de tiros que vinham de vários pontos diferentes, e que apenas revidou.
Mas familiares e testemunhas relataram que não houve confronto, e que os policiais teriam atirado contra uma motocicleta que passava na hora, com dois homens a bordo.
"Vai chegar amanhã e dizer que morreu uma criança no confronto. Que confronto?”, disse Aílton Félix, avô de Ágatha, na madrugada de sábado, em vídeo registrado pela TV Globo. “Confronto com quem? Porque não tinha ninguém, não tinha ninguém. Ele atirou por atirar na kombi. Atirou na kombi e matou minha neta. Isso é confronto? A minha neta estava armada por acaso para poder levar um tiro?".