16 setembro 2019

Igreja expulsa nove padres em disputa por colégios de SP



Foto: Eduardo Knapp/Folhapress

"Uma só alma, um só coração" é um dos lemas dos agostinianos, grupo religioso seguidor dos preceitos de Santo Agostinho. O mote, porém, não reflete o cisma entre os agostinianos no Brasil que resultou na suspensão do direito de nove padres de exercerem o cargo. Na prática, eles não podem mais celebrar missas ou dar bênçãos. Para os agostinianos, esses religiosos devem ser chamados de ex-padres.

Entre o expulsos está o espanhol César Rafael Rodríguez Martinez, de 92 anos, 66 deles vividos como padre. No centro da expulsão está a disputa pelo controle de três colégios tradicionais, dois deles em São Paulo, o Agostiniano Mendel, no Tatuapé, e Agostiniano São José, no Belém, ambos na zona leste. Há ainda o Nossa Senhora de Fátima, em Goiânia.

As escolas, com 9.300 alunos, são controladas pela Saea (Sociedade Agostiniana de Educação e Assistência). O maior e mais famoso dos colégios, o Mendel está entre as 50 melhores instituições de ensino no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e entre os 12 melhores no estado de São Paulo.

A disputa pelos colégios começa em 2013, quando era discutida a união de três entidades agostinianas, no que viria a ser chamada de Província Agostiniana do Brasil e passaria a ser representante da Ordem Agostiniana no país.

Entre elas estavam o Vicariato de Castela, responsável pelos três colégios; a delegação de Malta; e o Santíssimo Nome de Jesus do Brasil, administradora do colégio Santo Agostinho, no centro de São Paulo. Parte dos padres de Castela se separaram do grupo, em 2013, por divergência sobre a forma como a unificação vinha sendo tocada.

No ano seguinte, em assembleia, esses padres alteraram o estatuto social da Saea. Entre as alterações estavam, por exemplo, a possibilidade de inclusão de membros que não fazem parte da Ordem de Santo Agostinho ou mesmo da Igreja Católica (ser católico continuou sendo requisito).

A obediência ao Direito Canônico e às Constituições da Ordem de Santo Agostinho também deixam de fazer parte do estatuto. A Província viu o movimento como um golpe, um sequestro do patrimônio. Em 2015, a Província ameaçou os padres de expulsão da Ordem caso não recuassem da alteração no estatuto. O pedido não foi atendido e os padres foram expulsos.

No ano passado, o embate subiu mais um degrau. Com apoio de representações superiores da Igreja no país, os padres foram ameaçados de perderem seus direitos clericais, o que foi confirmado em agosto último. Na prática, já não podiam mais serem chamados de padres. A disputa religiosa ganhou a Justiça quando a Província tentou retomar a tutela dos colégios, num processo que corre em segredo de Justiça.

Os dois grupos divergem basicamente sobre a vinculação da Saea à Igreja. Para os dissidentes, a sociedade é uma entidade civil, sem ligação institucional e legal com a Igreja. Para a Província, a vinculação histórica é comprovada. Frei Claudio diz tentar garantir que as obras religiosas, educacionais e assistenciais permaneçam fiéis ao espírito agostiniano e católico, como sempre foram, até 2014.

com informações de yahoonotícias